Adeus,
meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! Votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto, E minh'alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus? Morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já não vejo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo
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Se eu tivesse uma máquina do tempo que me
permitisse o acesso a meados do século XIX, perguntaria a Almeida Garrett
(1799-1854), um dos introdutores da estética romântica em Portugal, e a Álvares
de Azevedo (1831-1852) - da segunda geração - qual seria a origem de suas
tragédias?
É bem representativo de uma época certas
condutas que retratam uma tendência de pensamento diluídas na sociedade.
Lembro-me das aulas de literatura, quando de minha preparação para o
vestibular, em que o professor Zé Maria – o famoso Zema – inspirado, tracejava
linearmente as fases do Romantismo e discorria acerca dos aspectos da técnica
literária do fazer poético de Garrett e Álvares de Azevedo, estabelecendo um
diálogo entre os poetas e seu tempo. Logicamente que Zema, seguindo um programa
cujo enfoque era o vestibular, privilegiava personagens da literatura que
reuniam em si todos os atributos reflexos da sociedade de outrora: era o caso
de Almeida Garrett e Álvares de Azevedo.
A partir desse referencial poético, filho
da disseminação de uma idéia de literatura e articulado com a concepção de
modernidade à época, criado no seio daquela sociedade e para aquela sociedade, outros
escritores adotaram essa estética como guia para descrever sua subjetividade. O
desdobramento de tudo isso foi que com o passar do tempo, o Romantismo foi incorporando
outros elementos que o renovaram e, de certa forma rompendo com certos formatos
de composições literárias, seja na poesia, seja na prosa, endossando outros. E
o ultra-romantismo que um dia foi tão valorizado e até mesmo desejado, passa a
ser alvo de críticas, dentre outras coisas por se afastar da razão... Era a
sucessão dos tempos anunciando a emergência do Realismo.
Poetas românticos, desde então, passam a
ser identificados com a pieguice, com o eu-dramático, o eu-arrazado, finalmente
decretando a “falência” estética do movimento, mas de maneira nenhuma sua
extinção, e a vigência de outra matriz literária.